O interior da Terra está cheio de vida e é mais profundo do que se imaginava, dizem cientistas

Uma pesquisa realizada em parceria por cientistas da Alemanha e Estados Unidos analisou, durante oito anos, o interior da Terra e descobriu uma diversidade surpreendente de seres vivos abaixo da superfície do planeta, em regiões mais profundas do que qualquer outra já descoberta anteriormente.

Pesquisa analisou vida no interior da Terra

Pesquisa analisou vida no interior da Terra – Foto: Emil Ruff/Reprodução/ND

Conduzido no Laboratório de Biologia Marinha (MBL), em Massachusetts, o estudo revelou uma diversidade microbiana alta em até 491 metros abaixo do fundo do mar e até 4.375 m abaixo do solo.

“É comumente assumido que quanto mais fundo você vai abaixo da superfície da Terra, menos energia está disponível, e menor é o número de células que podem sobreviver. Enquanto quanto mais energia presente, mais diversidade pode ser gerada e mantida, como em florestas tropicais ou recifes de corais, onde há muito sol e calor”, explicou o coordenador do projeto, Emil Ruff.

O estudo foi pioneiro em comparar os micróbios dos subsolos marinhos e terrestres, descobrindo que, assim como os animais da superfície, eles também raramente se misturam.

“Há uma divisão muito clara entre as formas de vida nos reinos marinho e terrestre, não apenas na superfície, mas também no subsolo. As pressões seletivas são muito diferentes na terra e no mar, e elas selecionam diferentes organismos que têm dificuldade de viver em ambos os reinos”, apontou o cientista.

Navio de perfuração científica, no Mar da China Meridional, em 2014, para coletar dados do interior da Terra

Navio de perfuração científica, no Mar da China Meridional, em 2014, para coletar dados do interior da Terra – Foto: Rick Colwell/Reprodução/ND

A vida no interior da Terra

A primeira vez que cientistas perceberam a existência de micróbios a quilômetros de profundidade da terra e do mar, foi em meados da década de 1990, explicou Ruff.

Com o avanço nas pesquisas, cientistas estimavam que entre 50 a 80% das células microbianas da Terra viviam no subsolo, onde a disponibilidade de energia é menor do que na superfície, iluminada pelo sol.

“Agora, também podemos afirmar que, talvez, metade da diversidade microbiana na Terra esteja no subsolo”, destacou Ruff. Outro ponto revelado pelo cientista é que, nesses ambientes de baixa energia, a vida acontece em um ritmo muito menos acelerado do que a de seus parentes na superfície.

“Algumas células do subsolo se dividem, em média, uma vez a cada mil anos. Então, esses micróbios têm escalas de tempo de vidas completamente diferentes, e podemos potencialmente aprender algo sobre o envelhecimento com eles”, ressaltou.

Um tapete microbiano de óxido de ferro que se desenvolve nos canais de saída dos furos perfurados na Mina de Ferro Subterrânea de Soudan

Um tapete microbiano de óxido de ferro que se desenvolve nos canais de saída dos furos perfurados na Mina de Ferro Subterrânea de Soudan, no norte de Minnesota – Foto: Cody Sheik/Reprodução/ND

O pesquisador ainda defende que, as descobertas no interior da Terra podem ajudar a revelar a história de outros planetas.

“Se Marte ou outros planetas tiveram água líquida em algum momento de suas histórias – e há evidências de que Marte teve – então, os ecossistemas rochosos 3 km abaixo de sua superfície seriam muito semelhantes aos da Terra”, diz Ruff.

“A energia seria muito baixa, os tempos de geração dos organismos seriam muito longos. Entender a vida profunda na Terra poderia ser um modelo para descobrir se houve vida em Marte e se ela sobreviveu”, completou.

Como o grupo conseguiu estudar o interior da Terra?

Uma flange hidrotermal de descarga, semelhantes aos vulcões de lama

Uma flange hidrotermal de descarga, semelhantes aos vulcões de lama – Foto: Schmidt Ocean Sciences/Reprodução/ND

Em 2016, foi realizado um “Censo da Vida Profunda”, quando grupos de pesquisa em todo o mundo enviaram amostras do subsolo para o MBL. Foi criado um padrão para sequenciar e analisar o DNA microbiano das amostras.

Isso forneceu, pela primeira vez, um conjunto de dados consistente que permitiu a comparação entre mais de mil amostras de 50 ecossistemas marinhos e terrestres.

Na época, Ruff estava no pós-doutorado e ajudou a sintetizar as amostras. Posteriormente, montou um grupo de pesquisa apenas para comparar os dados em larga escala.

Adicionar aos favoritos o Link permanente.