Nova praia de nudismo em Florianópolis? Como é a ideia de transferir o naturismo da Galheta

A situação do naturismo na Praia da Galheta, em Florianópolis, foi tema de uma audiência pública realizada na Alesc (Assembleia Legislativa de Santa Catarina) na tarde desta quinta-feira (20). Em meio às discussões, uma proposta do procurador federal Valmor Alves Moreira chamou a atenção: transferir a permissão do nudismo para outra praia ou ilha da capital catarinense.

A discussão sobre se a Galheta é uma praia de nudismo em Florianópolis ou não foi tema de audiência na Alesc - Foto: Vicente Schmitt/Agência AL/ND

A discussão sobre se a Galheta é uma praia de nudismo em Florianópolis ou não foi tema de audiência na Alesc – Foto: Vicente Schmitt/Agência AL/ND

Por um lado, representantes da AGAL (Associação dos Amigos da Galheta), entidade que defende a prática do naturismo, argumentaram que o Estado deve garantir a segurança de quem quer praticar nudismo no local. Em contrapartida, agentes da segurança pública, representados pelas polícias Civil e Militar, além da SMSOP (Secretaria Municipal de Segurança e Ordem Pública) e do Corpo de Bombeiros, apontaram para o crescente número de roubos, assédios, poluição e atos sexuais explícitos ao longo da areia e das trilhas da praia.

A audiência foi proposta pelo deputado estadual Alex Brasil (PL) com o objetivo de discutir problemas de segurança pública, convivência social e preservação ambiental na Praia da Galheta. Segundo o parlamentar, o debate serve como forma de reunir todas as partes envolvidas (moradores, autoridades e frequentadores) e buscar soluções concretas.

Agentes da segurança pública destacam crescentes números de roubos, assédios e sexo ao ar livre na Galheta

A vice-prefeita e secretária da SMSOP, Maryanne Mattos, abriu as falas afirmando que a Galheta enfrenta “descontrole” ambiental e práticas ilegais, incluindo o nudismo que, segundo ela, não tem amparo legal desde 2016.

Maryanne reforçou a existência de casos de violência, sexo ao ar livre e uso de drogas, que chegam a deixar rastros de lixos ao longo da trilha, como seringas, lenços e preservativos, além de pessoas que cortam parte da vegetação para abrir espaço para essas práticas. Em seu posicionamento, a vice-prefeita defende a união das forças de segurança pública para tornar a Galheta um “espaço seguro para todos”.

Masturbadores já foram flagrados na faixa de areia da praia da Galheta - Reprodução/ND

1
4

Masturbadores já foram flagrados na faixa de areia da praia da Galheta – Reprodução/ND

A Praia da Galheta já foi palco de filmes pornográficos compartilhados em sites adultos - Reprodução/ND

2
4

A Praia da Galheta já foi palco de filmes pornográficos compartilhados em sites adultos – Reprodução/ND

Flagrante de sexo na trilha da Praia da Galheta - Reprodução/ND

3
4

Flagrante de sexo na trilha da Praia da Galheta – Reprodução/ND

Ao longo da praia da Galheta, é possível encontrar camisinhas usadas - Reprodução/ND

4
4

Ao longo da praia da Galheta, é possível encontrar camisinhas usadas – Reprodução/ND

A posição da vice-prefeita foi reforçada pelo delegado da Polícia Civil Pedro Henrique de Paula e Silva Mendes, pelo major da PM Anderson Galdino Torres de Oliveira e pelo tenente-coronel do Corpo de Bombeiros Anderson Medeiros.

Medeiros relatou que há frequentadores que destroem postos salva-vidas na Praia da Galheta, gerando dificuldades operacionais para a corporação, além de assediadores que importunam guarda-vidas que realizam seu trabalho. O tenente-coronel também indicou que faltam ações conjuntas com outras forças de segurança e que são necessárias “soluções tecnológicas”, como uso de drones e câmeras, para combater os criminosos no local.

Oliveira confirmou a dificuldade de manter policiamento constante, devido ao deslocamento de efetivo até o local, e destacou que a presença de policiais militares pode constranger os frequentadores que praticam o nudismo, apesar de seguir com a interpretação da vice-prefeita sobre a ilegalidade da prática. O major da PM também destacou os flagrantes de sexo ao ar livre. “Só neste ano, e ainda estamos em março, já foram seis ocorrências de atendimento de ato obsceno na Galheta”.

Pelo menos caminho, Mendes confirmou a abertura de inquéritos para apurar agressões a frequentadores, além de informar que há mandados de prisão em aberto para capturar os criminosos. “Já temos, só neste mês, aproximadamente uns três ou quatro roubos que aconteceram lá. As pessoas já foram devidamente identificadas e o pedido de prisão já foi feito”.

Defensores do naturismo pedem maior fiscalização na Galheta e proteção legal para a prática do nudismo

Na contramão das falas dos agentes de segurança pública, a presidente da AGAL Miriam Carvalho Alves analisou que a prática naturista é antiga na história da humanidade e reconhecida no mundo inteiro, mas foi criminalizada sem debate público. Ela defendeu que o naturismo é uma prática preservacionista, ecológica e pacifista, sem relação com os atos de roubos, assédios, poluição e sexo obsceno flagrados por frequentadores e pelos policiais.

Segundo Alves, o poder público é historicamente ausente da Galheta e a lei atual não proíbe o nudismo, apenas deixa de proteger quem quer o praticar. Ela apontou para a falta de fiscalização contra os crimes cometidos na trilha e na praia e solicitou que fosse feita uma nova legislação com regras mais claras sobre o assunto para “não confundir naturistas com criminosos”.

Para os defensores da Galheta como uma praia de nudismo em Florianópolis, a prática não tem nada a ver com os atos criminosos praticados no local - Foto: Ana Schoeller/ND

Para os defensores da Galheta como uma praia de nudismo em Florianópolis, a prática não tem nada a ver com os atos criminosos praticados no local – Foto: Ana Schoeller/ND

No mesmo sentido, o deputado estadual Marquito (PSOL) reforçou que a Galheta é um MONA (Monumento Natural) e que, por isso, sua integridade deve ser preservada, sendo proibida a sua modificação por intervenção humana. No entanto, sua visitação é permitida legalmente, mas a falta de um Plano de Manejo eficiente dificulta ainda mais a situação do local.

O parlamentar também defende que o naturismo não está proibido legalmente e criticou o uso de violência como justificativa para criminalizar a prática, além de ter anunciado a movimentação de uma emenda parlamentar para instalação de sinalização e estrutura na Galheta. “Destinei uma emenda, através da bancada da Grande Florianópolis, que o deputado Alex Brasil também compõe. A gente destinou R$ 300.000 para a Floram, para construir os roteiros do ambiente, placas de identificação para as unidades de conservação municipal de Florianópolis e também para dar condições para as trilhas de acesso.”

Ambientalistas querem que debate não seja polarizado entre ‘nudistas e moralistas’

O debate também contou com grupos de ambientalistas e frequentadores neutros, que pediram ações efetivas para preservar a fauna e flora no local, apontando para falhas na gestão ambiental da praia e ausência de medidas concretas.

Ainda, os grupos defenderam que o foco seja a proteção do meio ambiente e da convivência pacífica, e não a “polarização entre nudistas e moralistas”.

Procurador federal sugere estudos para viabilizar outra praia de nudismo em Florianópolis

O procurador do MPF (Ministério Público Federal) Valmor Alves Moreira ressaltou que tanto a Praia Mole quanto a Galheta devem ser reordenadas após uma decisão federal. “Eu tenho uma ação civil pública ajuizada em 2003 para tratar da ordenação tanto da Mole quanto da Galheta. Essa ação tramitou durante 22 anos e agora, em março, saiu a sentença da Justiça Federal determinando a retirada de todos os bares que estão construídos de forma irregular no ambiente das praias. Em consequência disso, todo aquele ambiente será de uma recuperação ambiental da fauna, da flora e de toda a beleza cênica”.

Segundo o procurador, a Galheta passará por uma recuperação ambiental - Foto: Divulgação/ND

Segundo o procurador, a Galheta passará por uma recuperação ambiental – Foto: Divulgação/ND

No entanto, o procurador também denunciou práticas criminosas, agressões, degradação ambiental que seguem ocorrendo e comparou com a “civilidade” de outros lugares no exterior onde há nudismo em praias, como em Barcelona, onde há pelo menos dez praias na região onde a prática é permitida.

Com base em experiências internacionais, Moreira sugeriu que Florianópolis repensasse a questão. Em sua conclusão, o procurador afirmou que é necessário fazer um estudo para remanejar o nudismo para outra praia ou ilha da capital catarinense, tirando a prática da Galheta.

“Ali é o ambiente errado para a prática pretendida. E isso é por uma razão muito simples: os criminosos, que se aproveitam do ambiente de vegetação e de conservação para delinquir. Se aproveitam da boa-fé dos naturistas para se esconder debaixo de uma falsa armadura de naturista”, analisou Moreira.

“Eu proponho que seja realizado um estudo para que a prática de naturismo vá para outra praia ou ilha. Nós temos mais de 40 ilhas aqui na nossa região”, acrescentou, destacando que a ideia ainda é embrionária, não tendo ainda um local definido, mas que deverá ser determinado por estudos. Para Moreira, ao usar as “matas virgens” da Galheta para se esconderem, os criminosos agridem uma área de conservação e, portanto, o novo local deve ser onde não haverá esse problema.

Adicionar aos favoritos o permalink.