Espelho, espelho meu…

Caro(a) leitor(a),

O título de hoje nos remete à famosa frase: “Espelho, espelho meu, existe alguém mais bonita do que eu?” dita pela Rainha Má no clássico Branca de Neve, uma publicação dos irmãos Grimm no século XIX, que fez sucesso no cinema. Lançado em 1937, pela Disney, o filme foi um marco para a animação: teve a maior bilheteria de um filme com som na época e foi o primeiro longa-metragem animado colorido da história.

Mas não, este artigo não é sobre a ditadura da beleza e o mercado global que movimenta bilhões—especialmente no Brasil, que ocupa a quarta posição mundial nesse setor.

Espelho

Espelhos que refletem mais do que nossa imagem – Foto: Getty Images/ND

Vamos falar de espelhos. Como assim? Sim, dos espelhos que refletem mais do que nossa imagem. Na terapia, esse conceito está profundamente relacionado ao mecanismo de projeção.  Você já reparou que o mentiroso sempre acha que todo mundo está mentindo? Ou que quem trai sempre acredita que será traído? Aquela pessoa que vive tentando dar o golpe desconfia constantemente dos outros? E o invejoso, que jamais admite sentir inveja, mas acusa os outros de serem invejosos? E por aí vai…

Na psicologia, esse fenômeno é chamado de projeção. Sigmund Freud, pai da psicanálise, descreveu a projeção como um mecanismo de defesa do ego: quando um indivíduo não consegue lidar com determinadas características em si mesmo, ele as transfere para os outros. É uma forma de aliviar a tensão interna sem precisar reconhecer ou assumir essas características.

Carl Jung aprofundou esse conceito ao falar da sombra, a parte oculta da nossa psique onde guardamos tudo o que não queremos admitir sobre nós mesmos. Segundo Jung, quanto mais negamos nossa sombra, mais ela aparece nos outros — ou melhor, achamos que aparece. O que nos irrita profundamente em alguém pode ser um reflexo do que tentamos esconder sobre nós mesmos. E agora, lendo isso como você se sente? Você se identifica?

Pense bem! A base de qualquer relacionamento saudável—seja amoroso, profissional ou de amizade—passa pela nossa capacidade de olhar para dentro e entender nossas próprias projeções. Afinal, como podemos nos conectar genuinamente com alguém se não compreendemos nossas próprias sombras? O julgamento apressado, muitas vezes, diz mais sobre nós do que sobre o outro. Quando aprendemos a nos observar com mais sinceridade e aceitação, criamos relações mais sólidas, baseadas no respeito, na empatia e na compreensão mútua.

Mas o que fazer com esse conhecimento? A resposta está no próprio espelho. Em vez de julgar os outros com tanta certeza, talvez seja hora de nos perguntarmos: o que isso diz sobre mim? Se algo nos incomoda excessivamente no outro, talvez seja um convite para uma autoanálise. E quando alguém nos julga com dureza, vale lembrar que esse olhar pode estar refletindo mais sobre ele(a) do que sobre nós. Olhar para o espelho com honestidade é difícil, mas é essencial para nos tornarmos mais conscientes e, quem sabe, menos críticos com os outros e mais generosos conosco. Afinal, reconhecer nossas sombras é o primeiro passo para iluminá-las.

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