”Cheiro de saudade”

Caro(a) leitor(a),

“Não se admire se um dia

Um beija-flor invadir

A porta da tua casaTe der um beijo e partir

Fui eu que mandei o beijo

Que é pra matar meu desejo

Faz tempo que eu não te vejo

Ai, que saudade d’ocê.”

Música de Zeca Baleiro, fez sucesso nas vozes de Elba Ramalho, Fagner, Geraldo Azevedo, Fábio Jr. e do próprio autor. Tema recorrente nas novelas – a saudade.

Palavra única da língua portuguesa, sem tradução literal para outros idiomas.

Uma das palavras mais usadas em poesias de amor e músicas românticas.

Mas, afinal, o que é saudade? A mistura de perda, falta, distância e amor?

A ciência explica que sentimos saudades porque nossos corpos produzem hormônios que nos ajudam a criar laços afetivos. Filosoficamente, podemos compreender a saudade como a presença incessante da ausência.

Sob a ótica psicológica, a saudade não precisa ser negativa. Ela pode representar a contemplação de boas lembranças. Emoção associada ao sentimento.

“Se pudesse sentar aqui e conversar por uma hora com alguém do passado ou presente, quem seria?” – Foto: Getty Images/iStockphoto/ND

Você já se deu conta de que saudade é um vazio que ocupa um espaço enorme?

Saudade vai além da emoção, e pode causar sintomas físicos parecidos com a abstinência de drogas: irritação, aumento de cortisol, dificuldade para dormir e um mal-estar generalizado.

Sempre fui uma pessoa saudosa. Sinto saudades do cheiro da minha avó que partiu há mais de 30 anos. Outro dia, ao passar um creme no rosto, senti o aroma do creme que ela usava. Cheguei a comentar com minha mãe: “Esse creme tem o cheiro da vó.” Sinto saudades da minha mãe antes dela ser avó, saudades de quando meu pai cantava para acalmar meu coração.

Carrego saudade dos lugares onde morei, do cheiro doce da rua em Brasília, que depois descobri ser das flores “dama da noite”. E quem não sente saudades da comida de vó? Se fecho os olhos, quase consigo sentir o sabor do bife à milanesa da vó Myriam – o melhor do mundo! (Para mim, claro.)

E a saudade dos filhos pequenos? Aquele cheirinho de talco com Hipoglós, uma saudade que transborda.

O toque, a audição, todos os sentidos se apuram quando a saudade bate no peito e aperta o coração.

E quando ela vem com trilha sonora? Quem nunca ouviu uma playlist para desafogar as mágoas, pegar a estrada ou se trancar no quarto?

Hoje, com maturidade, sinto uma saudade nova: do que ainda não vivi. Lugares que não conheci, pessoas que não encontrei, da pessoa que conheci há pouco e já faz falta, dos sabores que não provei. Uma saudade urgente da vida pela vida.

Certa vez vi no Instagram a imagem de um banco de praça com a pergunta: “Se pudesse sentar aqui e conversar por uma hora com alguém do passado ou presente, quem seria?”

Deixo essa reflexão com você, caro(a) leitor(a). O Dia da Saudade é celebrado em 30 de janeiro. Como celebrar um sentimento tão ambíguo? Talvez reconhecendo que o tempo é incontrolável e que deixa marcas inesquecíveis.

Cuide bem da sua saudade. Ela é um pedaço importante de você.